Como alguns sabem, em meados de Janeiro decidi deixar o meu emprego, pago, regular e num escritório de arquitectura conhecido para começar a trabalhar noutro escritório, pequeno, desconhecido e sem grande fantasia. Porque terei feito esta cretinice ainda hoje me pergunto: na altura parecia-me normal que a combinação de um bom salário (quase o dobro do anterior), o facto de estar no centro, à porta de casa (antes perdia 3h por dia em viagens, no mínimo) e a desorganização e filmaria geral do sítio onde estava o justificassem.
Passado um mês, como também é sabido pelos da casa, fiquei outra vez sem emprego (onde trabalhei sempre a meio tempo, logo sem receber grande coisa). Fiquei na pior situação possivel – à espera de encontrar trabalho como arquitecto em Roma.
Quarenta emails depois (sem exagero), começo a receber chamadas. Nova cretinice: oferecem-me emprego com um salário modesto e eu peço uns dias para pensar e tentar arranjar mais entrevistas. Mais uma vez parecia-me normal. Dois dias depois já tinham dado o emprego a outro, e a dizer que depois me telefonavam (até hoje). Passava os meus dias ora no NetCafé à porta de casa, que tinha uns ecrans tão pequenos que não se via a página toda, ora no NetCafé em Barberini. Ao mesmo tempo estava a ler um livro americano sobre management que dizia “Procurar emprego é em si mesmo um emprego a tempo inteiro” (brilhante!). Devo ter assediado todos os professores de projecto da Universidade onde fiz Erasmus (um disse-me, “há dez dias tinha-te dado emprego”). Mais uma semana e recebo uma chamada “O arquitecto X gostaria de vê-lo amanhã”. Lindo! Acabou-se a parasitice! Lavo-me todo, cara rapada, e lá vou eu de prova final, portfolio e caderno de viagens debaixo do braço. A entrevista é com ‘a zignora, a mulher do patrão. Isto já era um mau presságio. “Sente-se. Digo-lhe já que o escritório está completo, mas gostava de ver os seus trabalhos”. Lá volto eu para casa triste e desconsolado. Recebo um mail – “gostaríamos de lhe fazer uma entrevista. Contacte-nos”. Telefono e a resposta é “Hmmm... não sei nada disso. Apanhou-me desprevenida. Espere que quando o arquitecto voltar ao escritório eu pergunto-lhe e depois contacto-o”. Claro que nunca mais ligaram.
Bem, para não malhar mais no ceguinho, finalmente arranjei trabalho. Como? Telefonaram-me para mais uma entrevista, que fiz (um deles disse- “O único problema é que ele está habituado a ser pago...” – estranho hábito, este) e depois, a conselho da mamma da minha menina, estive A SEMANA TODA a telefonar para lá para saber se me tinham aceitado ou não, até que o chefe finalmente balbuciou “...si, va bene...” como se me estivesse a fazer o maior favor da vida dele.
Enfim, moral da história: para se conseguir alguma coisa em Roma é preciso tratar toda a gente “a calci in cullo”, por assim dizer, ao pontapé. Mas eu já sabia...
29 de março de 2005
A Odisseia de encontrar emprego
posto pelo Alexandre às 13:35
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1 comentário:
Lembrei-me daquela já célebre história que nos contaram (terá sido um professor nosso?)do arquitecto que chega a Roma, apanha um táxi e, a meio do percurso, o taxista lhe pergunta o que ele faz: "Sono architetto!" Responde-lhe o taxista: "Anch'io!".
Boa sorte no novo escritório!
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